"Eu ainda era criança, mal me lembro. Estávamos ali, como de costume, com o pai e a mãe, a avó Bb'b,
alguns tios e tias que estavam de visita, o senhor Hnw, aquele que depois se transformou em cavalo, e nós
os mais pequenos. Em cima das nebulosas, parece-me que já contei outras vezes, estava-se por assim
dizer deitados, em resumo encolhidos, muito quietinhos, deixando-nos rodar para o lado que rodava. Não
estávamos deitados lá fora, percebem?, na superfície da nebulosa; não; aí fazia muito frio; estava-se por
baixo, como que embrulhados numa camada de matéria fluida e granulosa. Modo de calcular o tempo, não
havia; sempre que nos púnhamos a contar as rotações da nebulosa, surgiam contestações, dado que às
escuras não se tinham pontos de referência; e acabávamos por brigar. Assim, preferíamos deixar passar os
séculos como se fossem minutos; bastava só esperar, ficar tapados o mais que se podia, dormitar, fazer
uma chamada de vez em quando para termos a certeza de que estávamos lá todos; e — naturalmente —
coçar-nos; porque se fala muito bem, mas todo este redemoinhar de partículas não tinha outro efeito que não
fosse um incómodo prurido."
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